Total de visualizações de página

sábado, 29 de novembro de 2014

EM PAZ COLHENDO OS PÊSSEGOS DA PENSÃO


31 DE OUTUBRO DE 1936, ESSA TALVEZ SEJA A PRIMEIRA REFERENCIA AOS PRIMEIROS MORADORES DA NOVA MACONDO URBANIZADA, MUITO SE FALAVA DA CIDADE DOS MENORES E HOUVE REALMENTE GRANDE MOBILIZAÇÃO NO MEIO DA ELITE PAULISTA, JORNAIS SEMPRE NOTICIAVAM A IMPORTÂNCIA DA OBRA E A LUTA ATRÁS DE RECURSOS, FOI MUITO CHÁ, CHÁ DE CADEIRA  CIDREIRA E TAMBÉM CAMOMILA PRA MANTER A CALMA ATÉ REBENTAR A BOLSA. PRA ALGUMAS SENHORAS DA LIGA FOI COMO GERAR UM FILHO DAR VIDA Á TÃO GRANDIOSA OBRA. 
COM QUANTIAS DETALHADAS LISTAS ERAM DIVULGADAS COM  OS NOMES DE DOADORES OU FAMÍLIAS E TODO ATO EM PROL ERA ALARDEADO, MAS NUNCA SE FALAVA DESSES MENORES QUE APARENTEMENTE ERAM SOMENTE NÚMEROS, PARECIA SER MODA DOAR, OSTENTAR E NOTICIAR PRA APARECER BEM NA FOTO (TALVEZ COISAS DOS JORNAIS DA ÉPOCA) SALVO ALGUNS QUE PREFERIRAM ANONIMATO EM MEIO A TÃO NOBRE GESTO DE GENEROSIDADE NUM MAR DE VAIDADES . 
TUDO BEM, QUASE NADA MAS FALARAM, QUASE NADA... . ESSES 200 PRIMEIROS MORADORES FORAM OS PIONEIROS DO PROJETO E INAUGURARAM MAIS DE SETENTA ANOS DE UMA HISTÓRIA DE  RICAS HISTÓRIAS ONDE GLORIOSOS ANÔNIMOS,  TÃO GRANDIOSOS E NOBRES COMO OS DOADORES  QUE CONTINUAM ANÔNIMOS.
CARLOS ALBERTO QUE PREFERE NÃO MAIS CARREGAR O ANTIGO APELIDO DE GUERRA É UM DOS MAIS  QUERIDOS LEMBRADOS E ANTIGOS MORADORES  DA MACONDO PAULISTA DE QUE SE TEM NOTICIAS, PODERIA SER REMANESCENTE DOS PRIMEIROS MORADORES SE  TIVESSE NASCIDO ANTES DA  FUNDAÇÃO, SUA MELHOR OPÇÃO FOI FICAR E VARAR A HISTÓRIA  RESISTINDO  ÁS AGRURAS E DITADURAS DAS PRIMEIRAS DÉCADAS, VIU DE TUDO ALI É UM ARQUIVO VIVO DO LUGAR QUE O ACOLHEU. PENSO CREIO E PEÇO A DEUS QUE ESTEJA AGORA NUM QUARTO DA PENSÃO A SALVO DO FRIO E FOME COM UMA CAMA DESCENTE PRA DORMIR OU ATÉ MUITO MELHOR QUE ISSO, QUE ESTEJA BEM DE SAÚDE E EM PAZ COLHENDO OS PÊSSEGOS DA PENSÃO QUE APÓS DÉCADAS COM CERTEZA APURARAM AINDA MAIS A DOÇURA E MACIEZ. 
SR ALÍCIO, MESTRE DA MARCENARIA FOI NOSSO MENTOR, CONHECIA BEM O CARLOS ALBERTO QUE POR ESSA ÉPOCA  JÁ MORAVA NA PENSÃO, COMPREENDIA SUAS ATITUDES E PALAVRAS AS VEZES BODEJADAS COM A VOZ GRAVE, OUTRA PESSOA QUE O PEDISSE OU MANDASSE QUALQUER ORDEM TERIA QUE SABER FALAR PRA SER BEM ATENDIDO, TENHO BOAS RECORDAÇÕES DELE SEMPRE QUE PODIA AJUDAVA ESPONTANEAMENTE. ELE GOSTAVA DAS VEZES EM QUE MESMO SENDO CHAMADO ATENÇÃO OUVIA ELE DIZER MEU FILHO NÃO FAÇA ASSIM NÃO, TINHA MUITA PACIÊNCIA COM ELE, ERA O HOMEM BOM QUE ZELAVA POR ELE,  COMO TERÁ SIDO SUA VIDA NOS NOVOS TEMPOS???? VI ALGUMAS FOTOS DELE NA LIGA POR ISSO ME VEIO A LEMBRANÇA DELE AINDA ESTAR COLHENDO OS PÊSSEGOS DA PENSÃO.


























DAS HISTÓRIAS  DE VIDA VIVIDAS EXISTEM AQUELAS IMPREGNADAS NAS RETINAS ONDE ACABO ENCONTRANDO ALGUÉM QUE CONHEÇO SEM SABER QUEM É E QUEM SOU ACREDITO QUE DO FUNDO DE SEUS OLHOS ELES ME FALEM E ATÉ ME OUÇAM., 
fotos liga solidária e Cicero da Conceiçao

LEMBRANÇAS DE UM BRASIL A FORA

POR ANOS, MUITO DEPOIS DE TER SAÍDO DO EDD  AINDA ACREDITAVA QUE VIVENDO LÁ INTERNADO POR OITO ANOS SABIA ALGUMA COISA SOBRE AS PESSOAS QUE CONVIVERAM COMIGO E DA VERDADEIRA HISTÓRIA DO LUGAR, PROFUNDO ENGANO.. GUARDO COM CARINHO AS POUCAS LEMBRANÇAS FÍSICAS QUE SOBRARAM E FORAM ELAS COMBINADAS COM UM VELHO COMPUTADOR ULTRA PASSADO QUE ME INSTIGARAM A QUERER SABER MAIS SOBRE ESSAS LEMBRANÇAS. ACABEI ME ENCONTRANDO, ACHEI O ELO QUE ME FAZ SER ASSIM, TUDO QUE SEI É QUE NADA SEI E O POUCO QUE SEI NEM SEI SE SEI. NAS PESQUISAS QUE FAÇO EM JORNAIS, SITES, BLOGUES, YUO TUBE, ETC ENCONTREI INÚMERAS COISAS INTERESSANTES E CADA VEZ MAIS, MERGULHAR NESSA BUSCA SEM FIM. QUALQUER FRAGMENTO DE FOTO OU NOTíCÍA EU GUARDO E NESSAS PESQUISAS ENCONTREI DOIS VÍDEOS COM DEPOIMENTOS DE EX ALUNOS E FUNCIONÁRIOS, UM DO EDUCANDÁRIO DE BATATAIS OUTRO DO ABRIGO DE MENORES. DOIS LUGARES DE HISTÓRIAS E REALIDADES DIFERENTES QUE PRIMEIRO ME FEZ  LEMBRAR DO TERROR QUE TOCAVAM NA GENTE COM AMEAÇAS DE MANDAR PRA BATATAIS QUEM NÃO SE COMPORTASSE E VER QUE O BICHO NÃO ERA FEROZ, O PAVÃO NÃO ERA LINDO E MOSTRAVAM SÓ OS PÉS DO BICHO. SEGUNDO FOI MULTIPLICAR POR MILHÕES O CONCEITO QUE EU TINHA SOBRE A IMPORTÂNCIA DE ARQUIVAR QUALQUER FRAGMENTO DA HISTÓRIA POR MENOR QUE SEJA DA VIDA DE PESSOAS OU INSTITUIÇÕES. AGORA VEJO, SINTO E ENTENDO O SENTIMENTO DE QUEM ENCONTRA O QUE PERSEGUE E TAMBÉM OS MOTIVOS DE QUEM PROCURA.
EM SÍNTESE ME VI EM LUGARES QUE NUNCA ESTIVE MAS APAREÇO NAS IMAGENS. NOS VÍDEOS  MUDAM SE OS NOMES, PESSOAS, ANOS E  LUGARES QUE DE CERTA FORMA SE FUNDEM, É  O ALGO COMUM  DESCONHECIDO, JÁ NÃO EXISTE PASSADO OU PRESENTE OS DETALHES MARCANTES TORNAM SE ÚNICOS E ALONGAM E DESPERTAM O HORIZONTE PRO COMBUSTÍVEL DA  REFLEXÃO E MEMÓRIAS ADORMECIDAS. EM CERTOS MOMENTOS OS VIDEOS SÃO TRISTES E MELANCÓLICOS, EM OUTROS SAUDOSOS E CAUSAM INVEJA POR NÃO SE TEREM GUARDADO A MEMÓRIA DO LUGAR COM O DEVIDO RESPEITO ÁS PESSOAS QUE LÁ VIVERAM. ESSE OASIS NUMA CIDADE TÃO CARENTE DE ÁREAS VERDES E  SUPERVALORIZADO RESISTE AO CRESCIMENTO URBANO E AOS INTERESSES ESPECULATIVOS. PEÇO A DEUS VOLTAR E REVER OS CAMINHOS DE MUITAS LEMBRANÇAS ANTES QUE SE ACABE.










vídeos do yuo tube

O BHC CONFIDENTE DE SONHOS

Aos sábados, dia de acordar mais tarde, por volta das seis,  em alguns a rotina era quebrada pela limpeza mais detalhada dos pavilhões. Banheiros, perfumados com criolina, camas e estrados eram quase lavados com um pedaço de pano encharcado de querosene, nos colchões eram polvilhados porções de BHC, veneno agrícola, hoje proibido por ser cancerígeno, por nós usado pra matar pulgas, traças, fungos e o que mais viesse,  destruía qualquer odor, o diabo do BHC era confidente dos sonhos, no chão passava-se cera pra dar brilho e conservar o piso que depois de escovado e lustrado era quase um espelho, com a luz refletida dava pra se ver os vultos e a aquarela no horizonte. O tratamento era feito por todo o lar ao termino, enxada de forma amena, geralmente se trabalhava nos canteiros de flores, e plantas que traziam vida e harmonia ao lugar, nos faziam crer num imaginário concurso do lar com jardins mais bonitos,  pura ilusão, toda visita externa era feita nos lares de baixo, os mais distantes eram totalmente discriminados e esquecidos pela distancia. O 22 por ser o mais próximo da administração e da saída, recebia a maior parte das visitas e até algum utensílio ornamental, sendo o mais protegido e beneficiado, queriam que a maquiagem de lá fosse o reflexo do que nos outros não existia, geralmente as visitas saiam com boa impressão, sem falar mal e até comovidos com a obra instituída e fundamentada.















fotos google imagens e montagens

sábado, 22 de novembro de 2014

A PRAIA, O BRAVO MERCEDÃO E MACARRONADA NAS CURVAS DE SANTOS

Passou-se meu oitavo aniversario e nada, nem eu me lembrei dele, chegaram às férias do meio do ano e minha mãe ainda não tinha vindo me visitar, sabia ser temporário e nunca julguei abandono,  mesmo ilhado pelo mar do desencanto. 
Tudo estava sereno, quase não se via o carrasco, até os capitães do mato, saíram á passeio e do sobejo do quartel, formou se a pequena legião dos sem opção, era ficar ou ficar e vida que segue. 
O trabalho agora leve e prazeroso era  pago, remunerado pelo SERPRO, gatos pingados de vários pavilhões, se reuniam no 16 para vedar sacos plásticos contendo algo sobre imposto de renda com  etiquetas com nome e endereço do contribuinte. 
Durou pouco tempo, com o trabalho remunerado  a gana de se ganhar alguns míseros cruzeiros, fez a coisa andar ligeira, foi a fome com a vontade de comer. No fim de cada dia, sobravam elásticos de montão pra nossa prazerosa livre guerra, criamos atiradeiras, arcos,  revolveres e protótipos  do todo jeito. E veio também o primeiro passeio coletivo, foi no Forte dos Andradas, quartel do exército no Guarujá. Ninguém dormiu e madrugada à dentro, ainda no breu da noite os sem opção de três pavilhões se misturaram e invadiram o Mercedes num êxtase inimaginável. Pela manhã desfeita a cerração, a festa da alma dava vida aos olhos,  Roberto Carlos mostrou claramente os túneis e as curvas da estrada de Santos, misto de medo e prazer ao pensar no mercedão já na curva descendente da idade. 
Na entrada do quartel, um farol no verde, indicava pra seguir pela estrada de mão única, e o primeiro trecho em que se viu o mar,   foi ovacionado com um sonoroso e espontâneo  NÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ.
Dava medo sentir o mercedão se arrastando no caminho muito estreito, e olhar pro penhasco lá embaixo, em certos pontos era mano a mano, o penhasco e o mar. 
A areia separava dois morros, onde canhões cobertos pela mata, apontavam pro mar aberto e pra ilha de pedras, limite pelo mar da área militar, era o paraíso mesmo o clima não ajudando, garoava e parava, lembrei-me da Praia dos Amores e só se DEUS refizesse o lugar pra se parecer com ela, as lembranças traziam um lugar  comum que eu desconhecia, Irmão Domingos surpreendeu pela sunga, sem os trajes habituais e mais ainda, querendo brincar com os menores, todos desconfiados, fez  a escultura de uma baleia na areia, quis jogar bola e tentou ser amável humano, até que os gritos dos desesperados guardas, mandando uns menores voltarem da tentativa de chegar a nado á ilha de pedra, o fizessem tornar-se real sem maquiagem. Foi um castigo leve por serem menores em férias num quartel e estarem na frente dos oficiais, cumpriram tarefas, varrer, lavar pratos, sem brincar durante o resto do dia coisas leves, se lembrarmos..., à tarde seguiu legal, bola, banho, rango e um papo bem descontraído com os soldados até a hora de dormir. O dia nasceu com sol tímido em meio a neblina já comum e não sei se por costume ou pela vontade de brincar acordamos primeiro que os soldados, cuidamos do asseio, café e praia onde fiquei o dia todo, alguns foram ver os canhões, fiquei no paraíso e meu couro praiano,  fingia não sentir o arder do sol. Tarde, noite vadia, de bola, banho e rango, foi servido um inédito, simples macarrão, bem temperado, com pedaços de carne moída, que mais parecia um banquete, em nada   lembrava  os pés de galinha. Antes do sono teve tempo pra um jogo quase oficial na quadra, entre os nossos melhores e maiores, contra os soldados, pareceu final de campeonato, o domingão apelido do diretor pela altura e rigor parecia feliz, ou aliviado pelos internos, no indulto de férias, não parava de exibir a cremalheira serrilhada, feito as de uma rato com dentes miúdos, nosso desempenho de meninos militares, tinha surpreendido os oficiais positivamente e nem a tentativa de se chegar à ilha estragou o nosso brilho. Fomos avisados ao chegar de não nadar pra longe da praia e os soldados no rigor fantasioso do regime vigente do ano de 72, tinham as ordens expressas para atirar em tudo que se aproximasse da ilha, poderia ser uma invasão marxista pra tomar o poder no Brasil, seriam baladeiras contra canhões.

A madrugada da partida, foi muito agitada, vez por outra alguém pulava do beliche no dormitório destinado a nós e corria pra fila já formada na porta do banheiro, onde as latrinas militares, sem vaso esperavam os estomacais contorcionistas.  E foi assim do forte até o começo da subida da serra, onde tinha mato despejamos macarrão carne e a vergonha, se vazando pelo caminho, e era engraçado, tinha gente que se ajoelhava rogando pra descer, o mercedão parava e voávamos aos bandos pras moitas, que nem andorinhas em revoada, e  da janela os  sacanas gritos caguetavam, cagão, cagão, cagão. 
Na entrada da velha estrada, o enfado  e o ar de tristeza era geral e perto do cemitério um grito canto, acompanhado de batidas na lataria e indiferente aos olhos de quem vigiava e poderia punir, troou espontaneamente, quase como revolta, chegamos na gaiola, chegamos na gaiola, chegamos na gaiola, Seu Matos solava o
businaço do fiel mercedão, era o anuncio do fim da feliz jornada, cumprira sua missão bravamente, sem vexame, teria direito a um merecido banho. Os míseros cruzeiros recebidos com o trabalho gastei logo após o desembarque, já não se vazava e corria feliz à padaria, onde torrones e balas 15 me esperavam.



























fotos: google imagens, google earth e amigos do facebook.