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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

CRUELDADE LIGHT ?.

CRUELDADE LIGHT ?. NOITE OU DIA, NO CONGELAR NA INSANIDADE. 


De novo, enxada bola banho jantar Tv, sono, e noite adentro, nessa, interrompida pelo vigilante que agora a mando do carrasco me punia   horas sem fim por desaguar no colo do berço, com medo da noite ou fadiga a água que quase não bebia. 

No xadrez corredor xadrez meus pés descalços, adormecidos de frio e aprisionados num quadrado vermelho eram companhia de outros pés encarcerados num outro quadrado a frente, o de cor amarela, o outro de cor vermelha... amarela... 
Sobre nossas cabeças vergonha, sonhos e o colchão de capim que aquecia a noite e acalentava o sono adormecido em talcos de BHC. A alma pesava mais que o próprio castigo e as dores nas pernas, pescoço e ombros não eram maiores que a vergonha de no suspiro da alvorada, ao despertar da tropa ser flagrado naquela posição pelos irmãos. 
A trama do militarismo feudal sempre presente, acabava envolvendo, castrando ou alimentando os sentimentos, um código de ética criado sem ordens oficiais, há tempos estabelecido separava e premiava privilégios e merecimento. Era vergonhoso chorar, ter saudade, ter afeto, os maiores tinham prioridade na comida e nas tarefas, os deficientes esquecidos, os puxa-sacojurados por alguém, os afeminados protegidos, os fracos apanhavam pra ganhar firmeza, os castigados e mijões expostos e escrachados, os pernas de pau excluídos, os bons de bola ou briga respeitados e os caguetas desprezados com os ventos da lepra, as vezes crucificados no corredor da morte, pra ficar suave, no corredor polonês, e tome pancada. 
Brigas eram comuns pra manter poder e hierarquia e bem alimentadas, era literalmente mano a mano mesmo pois as vezes dois irmãos da mesma sorte eram obrigados a duelar, briga de galo em luta de animal, como cão raivoso, a satisfação era ver sangue, se não houvesse porrada muita e das boas os dois ou quem se recusava bater apanhava. 
O golpe mais utilizado numa briga era a rasteira, às vezes se ameaçava com o braço e tome pernada por baixo, noutras, primeiro a sugesta com uma, e la vai rasteira com a outra, se vacilasse olhando as pernas tome tapa na cara e ouvidos e zum , zum, zum,, zum zum zum... parana e ... camará. 
Manhã sem aula, sábado ou feriado não sei, sei do frio que nem o terreiro nos mandaram varrer, fechados no quartinho da dispensa, quase todos espremidos na dispensa xadrez, participavam de uma atroz crueldade light se é que existe. Primeiro as estórias das assombrações que apareciam durante a quaresma, aquilo mantinha-nos cheios de medo, dele, dos mortos que vagavam pela mata, do curupira, saci, almas penadas, e até de DEUS. Depois, um por vez todos tinham que cantar uma música, completava-se a rodada e música inédita, quem não cantasse ou repetisse entrava na chibata e passava um tempo lá fora na fermata do insano, no frio e descalço, se a " brincadeira " ficasse sem graça voltava alguém que lembrasse alguma nova ou bastante popular pra dar novo animo. 
Santa Cecília e a padroeira do Monte Alegre eram quem cuidavam pras gripes e resfriados não virarem pneumonias ou bronquites e me iluminaram ao lembrarem-me de minha mãe e das canções que cantava pra mim, Ah barracão, Sertaneja, Olê Mulé Rendeira, Acorda Maria Bonita, Carinhoso, Ronda..., lembrava de minha mãe e adiava o castigo. 
Confesso que tinha irmãos que se alvoroçavam pra voltar pra cela dispensa não pra fugir do frio, mas de tão envolvido que estava, voltava pra cantar algo que julgasse agradar a platéia e o carrasco e ganhar algum suposto credito As músicas eram variadas, e rolava de tudo e do jeito que o interprete conhecia, e como ou com quem aprendera determinada gravação; e tinha até coreografia, da pra se enxergar dai as imitações é só fechar os olhos, o jeito que saia uma música por exemplo as sertanejas na voz de um menino, querendo fazer segundas, impostações, vibratos de boca de ovo ou falsetes ou ainda o esforço pra alcançar as notas quando se começava num tom alto e o refrão exigia mais, e o medo, e o frio, e o ritmo, e o descompasso e as letras recriadas, ali na hora. 
Nessa passagem ouvimos entre outros, Lupicínio Jamelão,( é junto pra se fundir os dois), Inesita Barroso, Roberto Carlos, Tonico e Tinoco, Sergio Reis com direito ao solo do início e fim, Adoniram Barbosa, Cascatinha e Inhana e a índia do primeiro amor, Ataulfo Alves, guarânias, modas de viola, as carnavalescas, sambas e uma em especial que ficou gravada, pois o irmão só sabia essa e sabendo que iria apanhar, mudava de tom, impostava a voz mas a ladainha era a mesma, e todos desfilavam bem o samba enredo da escravidão. 
Chorando de medo, as confusões, no canto, nos versos e a performance dele faziam o louco de batuta chibata na mão, gargalhar e manda-lo cantar e repetir de novo, e chorô chorô chorô e risos, e de novo, e gargalhava e o pobre chorava e de novo, de novo... e o frio... e todo mundo zoando... e o medo...


SABIÁ LA NA GAIOLA FEZ UM BURAQUINHO,


VUÔ, VUÔ, VUÔ...


A MENINA QUE GOSTAVA TANTO DO BICHINHO,



CHORÔ, CHORÔ, CHORÔ...





















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